sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

UMA AUTO-ESTRADA DIPLOMÁTICA

Mira Gomes considera Portugal um interlocutor natural com a China

Por Hoje Macau 19 Nov 2010
Helena da Cruz Mouro, em Lisboa

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Em entrevista ao Hoje Macau, o embaixador de Portugal junto da NATO, Mira Gomes, considerou a Cimeira de Lisboa um marco histórico para a Aliança Atlântica. Por um lado, pelos objectivos atingidos e pela sua substância e por outro, pela qualidade, o nível da organização e hospitalidade que deixaram todas as delegações oficiais encantadas com Portugal, com direito a um especial agradecimento público de Barack Obama no final da conferência de imprensa.
O embaixador Mira Gomes apontou em primeiro lugar que “a Cimeira de Lisboa vai ficar efectivamente na história da Aliança Atlântica por várias razões, não só pela Cimeira que aprovou o novo Conceito Estratégico, foi também a Cimeira que lançou o novo sistema de defesa anti-míssil para a Europa, cobrindo todo o território e todo o tipo de populações da Europa, sendo a Cimeira que chegou a acordo sobre um novo processo de transição no Afeganistão, que levará a prazo a uma transferência gradual da responsabilidade das Forças da NATO para as Forças Afegãs na segurança do território”.
Em segundo lugar, acrescentou o diplomata português junto da representação permanente de Portugal na NATO, pôs-se fim a um capítulo da história da NATO num mundo bipolar. “Foi uma cimeira que relançou as relações entre a NATO e a Rússia, por essas razões é uma cimeira que fica na história da Aliança.”
Por fim, no que toca ao novo Conceito Estratégico da NATO, Mira Gomes assume que este traz uma mensagem muito importante para o mundo. O novo Conceito Estratégico assenta no princípio da abertura ao mundo não com a NATO como um “polícia” do mundo, reforça o diplomata português e ex-secretário de Estado da Defesa, “que não é”. Segundo Mira Gomes, a NATO reconhece a sua segurança está pendente do esforço de segurança das outras partes do mundo. “Tem de se ter um diálogo de segurança mais estreito com outros parceiros e com outros actores internacionais. Não só aqueles que estão na sua área mais imediata, como também aqueles que estão mais longe, como por exemplo a China, que foi referida em várias intervenções como sendo um parceiro muito importante também neste diálogo de segurança que a NATO gostaria de estabelecer e que penso que também é do interesse da China estabelecer”, frisou.
Depois de coleccionar mais uma vitória quando foi eleita para membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a diplomacia portuguesa, neste diálogo transatlântico, jogou-se de forma como Portugal melhor sabe fazer: a moldar a estratégia das parcerias da NATO no mundo. “Portugal também deu um contributo para essa visão da NATO nas parcerias estratégicas do novo conceito, através daquilo que é a história de Portugal, quando Portugal esteve em várias partes do mundo e daquilo que também são as relações privilegiadas de Portugal com vários actores internacionais – da América do Sul, em África, mas também na Ásia, nomeadamente com a China, onde fizemos lembrar aos aliados o passado comum que temos com o país”, concluiu.